A gestação decididamente não é linear, e muito menos previsível.
Tudo transborda: emoções, pensamentos, sentimentos, hormônios, mudanças do corpo. Tudo é demais, e não dá para fazer de conta que a vida continua a mesma!
É assim mesmo, a gestante se surpreende, se encanta, se assusta, se destempera, se desconhece. E não há nada de errado, nada que mereça ser classificado ou diagnosticado.
Tudo fica diferente e em alguns momentos parece que há uma pitada de enlouquecimento e de estranhamento no ar. Os sentimentos se confundem e convivem. Há uma inevitável sensação de solidão. Agora é comigo, como vai ser? Depois há o medo do parto, da amamentação, o medo de que o bebê tenha alguma malformação, de que algo mais aconteça…
E se, nesse complexo cenário interno da mulher gestante, acrescentarmos uma pandemia mundial com suas incertezas e seus horrores?
Hoje sabemos mais do que sabíamos em março de 2020 quando a Covid 19 chegou ao Brasil. Depois de um ano de esforços conjuntos, sabemos um pouco mais e a população começa a ser vacinada. Mesmo assim, ainda sabemos pouco, e os cientistas sempre têm o cuidado de afirmar que todo conhecimento ainda é provisório e sujeito a revisões. Apesar disso, existem algumas recomendações de consenso entre o pré-natal e o pós-natal.
Gestação: Se a gestante tiver sintomas da Covid-19 como febre, tosse, dificuldade em respirar, é importante ligar para o médico ou enfermeira de referência, para avaliar a necessidade de fazer alguma testagem ou ser examinada.
Parto: Até o momento, a via de parto seja vaginal ou por cesariana, não deve ser influenciada pela presença de Covid-19, a menos que a condição respiratória da mulher exija um parto de emergência.
Recém-nascido: Não há evidências de transmissão da Covid-19 para o bebê intra útero ou intraparto.
Aleitamento materno: Não há evidências sobre a transmissão do vírus pelo aleitamento materno. Os riscos e os benefícios da amamentação, incluindo o risco de segurar o bebê próximo ao corpo materno, deverá ser discutido com o profissional de saúde que acompanha a família.
Mas, apesar dos medos e inseguranças somadas, como desenvolver certa imunidade que possa proteger a magia da vida e a chegada de um novo ser humano?
– Todos se beneficiam quando mãe e pai cooperam entre si, cuidando da casa e do bebê;
– Respeitem a necessidade de isolamento social e de não aglomeração. Usem máscara, álcool em gel e lavem sempre as mãos;
– Planejem com antecedência o isolamento de 14 dias das pessoas implicadas no suporte da família: quem entra, quem sai, quem fica;
– Cuidem da dispensa e deixem o freezer abastecido. Ou combinem quem pode colaborar com a família providenciando algumas refeições;
– Peçam ajuda, sempre que necessário. Admitir a necessidade de ajuda é importante;
– Participem, de modo remoto, de Curso ou Roda na Gestação*;
– Participem de modo remoto de Roda de Conversa de Gestantes, ou de mães, pais e bebês;
– Peçam ajuda de uma consultora de amamentação, não precisam padecer no paraíso;
– Reservem um tempo para conversar, fantasiar e imaginar a nova família;
– Pensem em possibilidades de nome e sobrenome para o bebê, sem pressa;
– Se puderem, guardem um tempo para rever as fotos da própria infância e da infância do(a) parceiro(a);
Finalizando, fica o convite para fortalecer laços e desfrutar de tudo aquilo que as(os) faça se sentirem conectadas(os) com a vida, como ouvir música, dançar, ler, cozinhar, mexer na terra, cuidar das plantas, respirar, namorar, conversar, ficar em silêncio ou meditar.
Silvia Ribes – psiquiatra e psicanalista
Texto publicado no portal Papo de Mãe em 16 de abril de 2021