As mães de bebês se surpreendem com o fato dos recém-nascidos gostarem tanto de seus colos. Berço, carrinho, Moisés, não são os lugares preferidos. Podemos pensar em duas questões: porque o bebê prefere o colo da mãe e como arrumar o carrinho / berço de um modo que o bebê consiga se sentir aconchegado.
O bebê passa os primeiro nove meses de sua existência no útero materno, um lugar de crescimento limitado; assim na medida em que ele, o bebê, vai crescendo, o espaço fica menor e ele mais apertado. É com esse espaço pequeno que ele está familiarizado, que foi sua casa e abrigo. Ao nascer é o colo do adulto que pode fazer às vezes desse “apertado”, que impede que se sinta solto no espaço, sem nada que lhe ofereça borda, limite. Essa necessidade se mantém durante muitos meses; há os que afirmam que só no segundo ano de vida a noção corporal que o bebê adquire será suficiente para mantê-lo aconchegado e tranquilo. Mas, mesmo antes do primeiro ano de vida, entre os 10-12 meses de vida, o bebê tenta, à vezes, se desvencilhar do colo quando está interessado em engatinhar, andar.
Sarah Moore, pesquisadora da Universidade British Columbia, no Canadá, indica que o toque – ou a falta dele- modifica o DNA (molécula no núcleo da célula que carrega toda a informação genética). A modificação genética determinada pela influencia do ambiente é fato já bem conhecido, mas a pesquisadora inclui o toque, o contato pele a pele com o bebê como um elemento importante. Isto é, existe uma relação entre contato físico e saúde a nível molecular em especial em genes (segmentos de uma molécula do DNA) envolvidos no metabolismo e no sistema imunológico. As mudanças ocorrem na metilação do DNA (modificação química), processo que se dá desde o começo da vida e determina como os genes se expressarão no futuro. A metilação é uma espécie de interruptor no gene, que mais tarde regulará o funcionamento de varias células.
Já é fato conhecido que a saúde física tem uma relação próxima com saúde psíquica. Criança cuidada com afeto e respeito costuma ser saudável, simples assim. No corpo e na vida emocional. Stress, violência, negligência adoecem, em todos os aspectos.
Vejam que interessante: tão velha quanto a humanidade é a prática de carregar o bebê junto do corpo. Considerado pelo antropólogo Timothy Taylor uma invenção tecnológica pré-histórica, contribui para a vida extrauterina – fora do útero- e que favorece o desenvolvimento do cérebro. Africanos, indígenas, orientais carregam bebês em panos atados no corpo desde sempre: eles sabem que a espécie humana precisa dessa interação próxima e longa na primeira etapa da vida. No Reino Unido se desenvolveu o chamado “ticks” (2010) que reúne um conjunto de itens de segurança para carregadores de bebês: ajuste, visibilidade do rosto do bebê e a distância do rosto do adulto (de um beijo), queixo afastado do peito entre outros.
Há uma imensa diversidade de materiais e modo de posicionamento do bebê. Depende do lugar do mundo e de variáveis sócio culturais, que incluem a atividade profissional do responsável (conhecemos bem mulheres africanas trabalhando na lavoura com os filhos atados nas costas). Entre os indígenas brasileiros as tipoias (slings) são trançadas com material retirado da natureza, os africanos usam couro. Nas áreas do plantio de algodão, cardagem e fiação as tipoias são feitas de tecidos retilíneos. Em regiões muito frias o bebê é enrolado em mantas de lã antes de ser colocado no carregador. O conforto daquele que carrega também é lavado em conta na fabricação do artefato.
Mas não é pouco lembrar que eventualmente, por razões de saúde, não é possível carregar os filhos nas costas ou diante do corpo. Encontram-se outras formas (sentar-se, deitar-se com o bebê, manter algum contato físico com ele, mesmo quando carregado no Moisés, por exemplo. Os americanos desenvolveram carrinhos de bebê ultra confortáveis… mas o bebê fica longe das batidas do coração da mãe, do calor do seu corpo, que ele gosta tanto de sentir.
Enrolar o bebê com um pano, mantendo-o apertado como estava no útero tem o poder de acalmá-lo. Arrumar um ninho no berço, onde o bebê possa se sentir circundado por um limite físico, são meios de ajudá-lo a se sentir aconchegado. Uma peça de roupa da mãe pode tranquilizá-lo, é um modo de “mamaenzar” o berço, tornando-o familiar.
Blog consultado: Chloé Pinheiro (4 de janeiro 2018)