As transformações da maternidade

Pós-Parto | 12/12/2024

A Roda de Conversa que se desenrola no whats app do Gamp 21 pode ser considerada um inventário das questões e angústias com as quais as mulheres do século 21 estão se confrontando. Cabem descontos nesta abrangência dadas às particularidades – sócio econômicas, geográficas, culturais- do grupo participante. Acreditamos que as diferenças entre este e outros grupos seja no grau, na intensidade, mas subtraindo e multiplicando as diferenças não deverão ser substanciais.

Nossa proposta é fazer alguns recortes nas falas e textos dos participantes do grupo e tecer, a cada um dos recortes, ponderações sobre o tema envolvido.

Dezembro 2024

Frase: “Parece que na gravidez só faltam beijar nossos pés. Mas depois que o bebê nasce pronto, todos os que beijavam nossos pés resolvem nos falar o que bem lhes aprouver”.

A frase, sucinta e bem formulada, aponta para dois tempos: antes e depois do nascimento do bebê. A mulher grávida tem preferência na fila do supermercado e prioridade no transporte público. As pessoas mantém uma aproximação respeitosa e nessa aproximação se esforçam por assegurar um clima cerimonioso. Há algo de sagrado que envolve a gestante e principalmente a gestação. Ela garante nossa continuidade aqui no planeta terra e a gestante se dispôs a dar seu apoio à causa da continuidade. Daí a expressão “beijar os pés”.  Mas o apoio implica num evidente desconforto e pequenas intercorrências. Carregar o bebê pesa, a movimentação fica um tanto limitada, não poucas vezes a gestante deve fazer dieta, controlar a pressão arterial. E se preparar para o parto e o puerpério. Isto é, ela terá pelo menos um ano difícil pela frente. Um ano que exigirá dedicação ampla e irrestrita ao novo habitante. Trabalho dos mais exigentes, mas para, além disso, é um trabalho que quase ninguém avalia, conhece o tamanho, mede a dificuldade. Sabe-se lá por que, mas todos esquecem no que ele implica. A gestante é rapidamente esquecida e permanece apenas a mãe. E mãe, como todos sabem, é aquela que pode facilmente ser criticada. Na melhor das hipóteses se tivermos tido ou ainda tenhamos uma boa e prestativa mãe, ela sempre poderia ter feito um pouquinho mais, ter nos amado com uma intensidade maiorzinha. Mãe e reivindicações andam juntas….. Daí a observação da nossa participante,” as pessoas dizem o que bem lhes aprouver”.

Mãe da mãe, sogra – ah! a sogra- se colocam não poucas vezes como conhecedoras de bebês e de suas necessidades. Não esqueçamos que às vezes mães e sogras podem ser respeitosas e perguntar para a mãe do recém-nascido o que ela quer que façam e como. Às vezes dá certo, muito certo. Mas quando não dá, os desdobramentos são desastrosos. Somam-se magoas e ressentimentos de ambos os lados. As avós e sogras não levam em conta de que o tempo passou, as ciências avançaram, se conhece hoje o que não se conhecia antes sobre bebês e mães. E para, além disso, as mães têm a possibilidade de acessar uma quantidade gigantesca de informações com as quais as gerações anteriores nem sonhavam. O mundo tem andado muito rápido. As mulheres trabalham hoje até uma idade mais estendida e não poucas vezes não têm tempo nem disponibilidade para ajudar com a nova geração.

Açúcar na chupeta, chás, faixa de pano em torno do umbigo, leite fraco…. São conhecimentos de fato ultrapassados pela experiência e clínica.

Eva Wongtschowski é psicanalista, participa das Rodas de Conversa do Gamp21 e realiza atendimento clínico, presencial e online.