Pode causar espanto e desconfiança a afirmação de que bebês têm, desde sempre, movimentos agressivos. Não só é assim, como a agressividade está intimamente ligada com a vida, com o que se denomina força vital. Ela é sinônimo de atividade, motilidade: é parte integrante do que denominamos de apetite, entendido de forma extensa. A agressividade vai se modificando a medida que o bebê cresce; esta modificação vai depender da qualidade da relação que os pais vão estabelecer com ela, isto é, do ambiente no qual ela vai crescer. No melhor dos casos a agressão da criança vai se transformar em um elemento integrado ao conjunto de sua personalidade. Quando o ambiente não é favorável a agressão se manifesta de modo anti-social, como destrutividade.
Segundo Winnicott há uma agressão inata e se o ambiente for adequado, a criança usará esta energia de forma construtiva para brincar, aprender e, mais tarde na vida, para trabalhar. A agressão, considerada primária pelo autor mencionado, é acompanhada por fantasias de destruição. Estabelece uma diferença entre a destruição que se passa na fantasia e aquela que de fato se exterioriza, que é atuada. Assim como o bebê tem capacidade de destruir (morder o seio por exemplo), ele tem igualmente capacidade de proteger o que e quem ama. E sem duvida a maior destrutividade se mantém no nível da fantasia.
Mesmo quando a agressão primária é intensa, ela poderá ser administrada pelo bebê e pela criança, quando o ambiente for favorável. A palavra avidez expressa bem a energia agressiva que todos manifestamos, e ela pode ser bem aplicada nas ações quando se funde com nossa capacidade de amar.
Do ponto de vista do bebê nenhuma agressividade é boa ou ruim, ela é experimentada no começo como uma força, energia em prol da vida, e só pouco a pouco ela é nomeada, adquirindo então um valor social. Antes disso ela não pode ser considerada como tendo uma intenção. Quando a agressão primária é bem tolerada pela mãe ao amamentar, ao exercer os primeiros cuidados, melhor será seu destino no interior de sua personalidade.
Não podemos esquecer que nos primeiros tempos de vida do bebê, este ainda não se diferencia da mãe, é como se a mãe e ele fossem a mesma pessoa. Assim, as eventuais expressões de agressividade (morder o seio) não são vividas pelo bebê como agressão pois não se dirigem a ninguém em particular, mas a um pedaço dele mesmo (no caso o seio materno).
Alguns autores referem-se à agressividade com o termo excitação, que nos faz pensar em ações ainda nada permeadas por qualquer condição de controle tanto do ponto de vista motor quanto psíquico. Mas são ações que envolvem prazer por implicar em intensidade expressiva.
Há um segundo momento em que o bebê entra numa fase denominada de estágio de preocupação (Winnicott) onde ele já tem, em alguma medida, uma forma de avaliar os resultados de sua ação. A tristeza, e sintomas somáticos, como vômitos, podem expressar mal estar por sua ação. Mas é a mãe, ou seu substituto, quem deve relativizar e permear essa ação dando a ela um sentido, uma intenção.
O bebê, mesmo quando muito protegido e bem cuidado é submetido a frustrações inerentes a vida, que ocorrem pela via das relações entre as pessoas. A frustração pode ser entendida como um estado provocado por uma necessidade e ou desejo não satisfeito. Este estado cria uma situação de tensão interna, que o bebê aprende a administrar inicialmente com a ajuda da mãe (quando tem fome a mãe alimenta, quando sente frio é agasalhado, quando se sente só a mãe faz companhia), e pouco a pouco a criança desenvolve mecanismos psíquicos próprios para administrá-la de forma socialmente aprendida.
Não podemos esquecer que a noção de agressividade está muito presente no nosso mundo contemporâneo: ela é associada a luta pela sobrevivência, a garra, a combatividade.