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Parentalidade | 01/06/2024

Recebemos pelo whats app um pequeno texto sobre a mãe da mulher que acaba de se tornar mãe. Maria Lucia Oliveira, autora do texto, enfatiza que a mãe da mãe tem, num primeiro momento, olhos para a filha, e só mais tarde para o neto. É sua a filha que padece, tem o peito dolorido, que chora as dores do parto. Ela se solidariza, limpa a casa, prepara as refeições prediletas da filha, sem desconsiderar aquelas que vão alimenta-la bem. Durante a noite pensa na filha, sofre por ela, e se pergunta como será o seu próximo dia, se dará conta. Ao mesmo tempo vai desenrolando na memória sua própria maternidade, não pode evitar uma avaliação renovada de como foi. Tem clareza da sua responsabilidade para que a filha se faça também mãe.

Embora o texto seja datado, 23 de Maio de 2024, nos perguntamos se não vem de encontro a um sentimento nostálgico do que perdemos, de uma situação que raramente as mulheres vivem hoje. Há mães que recebem a filha e o genro recém-paridos em casa, que disponibiliza um quarto, e oferece todas as mordomias de casa de mãe. Há claro mães que vem de longe, passam o primeiro mês na casa da filha e trabalham duro para que a nova mãe tenha todo conforto, tranquilidade para cuidar do bebê. As avós, agora os avôs também, cuidam do mais velho para deixar mais tempo para o bebê. Mas entre as mães que nos leem levante a mão quem tem essa ajuda despojada e respeitosa.

Estamos num período da história em que as mulheres, embora muitas vezes já aposentadas, se mantém trabalhando muito tempo após o recebimento do benefício, saindo cedo de casa e voltando no final do dia. Portanto em idade produtiva e com pouco tempo livre.  A evolução da ciência e suas aplicações exercidas pela medicina, enfermagem, psicanálise, nutrição, fisioterapia introduziram nos últimos anos mudanças importantes nos protocolos de cuidados com os bebês; este fato tem causado uma certa distância e estranhamento entre as gerações que dificultam a aceitação, sem criticas ou alguma tensão, no modo como as avós propõe que as mães devam cuidar dos seus bebês.

Há ainda algumas questões delicadas a serem levadas em conta. As avós, não poucas vezes, gostariam que seu conhecimento e experiência fossem aceitos como corretas e inquestionáveis, o que na maior parte das vezes não acontece. As mulheres têm tido filhos mais maduras e com acesso a uma infinidade de informação. Nos centros urbanos a internet é onipresente, pronta a ser alcançada. Trazer à luz um bebê é vivido pelas mulheres – quase sempre – como um ato de potência e criatividade, ato do qual as mulheres mais velhas estão impedidas. O bebê é um ser humano, embora vulnerável e frágil, representa uma esperança e uma perspectiva de bom futuro, e, portanto todos gostariam de fazer parte dessa esperança e perspectiva. E o bebê é dos pais, responsabilidade primeira deles, e os avós, cunhados, tios são avós, cunhados, tios, coadjuvantes. Mesmo que importantes coadjuvantes.

 

Consultora de amamentação: interlocutora de escolha da mãe

Esse conjunto de circunstâncias podem tornar as consultoras de amamentação (além dos cursos, blogs) interlocutoras escolhidas pelas mães. Elas se propõem a ouvir atentamente a mãe/pai e também avós, porque não, quando presentes, e responder suas dúvidas acrescentando informações sobre os cuidados com o bebê que lhe parecem importantes naquele momento. A consultora não faz nenhum tipo de julgamento a priori – que a mãe não tem jeito para amamentar, ou não vai dar conta (o que é muito comum parente fazer….) .A consultora transforma uma dificuldade – que sempre existe- em habilidade.Transforma um desconhecimento em conhecimento. Seu objetivo central é empoderar a mãe para que possa desenvolver suas habilidades e ter prazer em estar com o bebê. Faz uma gestão das dificuldades com argumentos, com raciocínio, esclarecendo os porquês no modo de solucionar problemas. A “falta de jeito”, a tristeza, a ansiedade são tratados como fazendo parte do processo. Portanto devidamente respeitadas.

É preciso levar em conta que cuidar de bebês se tornou extremamente complexo na mesma proporção em que há milhões de informações sobre quase tudo que se passa com eles. Sempre, cem por cento das vezes existem um segundo, terceiro modo de solucionar um problema. O que torna esse campo, convenhamos de difícil administração. É nesse sentido que as mães estão atrás de certa neutralidade, digamos de profissionalismo. Objetividade, um certo pragmatismo.

Quando é possível sair do campo da competição, quando não se trata de provar quem sabe mais, a família pode ser preciosa neste momento da vida.

Eva Wongtschowski é psicanalista, participa das Rodas de Conversa do Gamp21 e realiza atendimento clínico, presencial e online.