Acreditar ou não acreditar?
A fragilidade do bebê faz parte da sua condição de recém-nascido. Como resultado dessa condição, proporcionar cuidados a ele é tarefa difícil e desafiante. Qualquer mudança no seu corpo, na sua forma de se alimentar, nas fezes e urina, nos sons que produz, no excesso ou falta de sono, tudo produz dúvidas e necessidade de saber como colaborar com o bebê. A solução tem sempre caráter de urgência. Os pais querem resolver rapidamente porque as vezes a mudança envolve o sofrimento do bebê.
Uma das nossas participantes da Roda, sem maior titubeio, conta que mantém três pediatras diferentes, mesmo tendo um dentro de casa (seu marido é pediatra). Sai de um, se dirige ao segundo se necessário, dependendo de sua orientação. No caso de visitar os três, volta para casa com três orientações diferentes, decide por aquela que lhe parece melhor. A medicina não é uma ciência exata. Para um mesmo problema pode haver diferentes propostas de solução. Os responsáveis pelo bebê, nem sempre têm muita facilidade em escolher uma delas, mas por outro lado, dada a experiencia que cada um dos adultos tem com médicos e tratamentos, pode não ser tão espinhoso decidir.
O que se constitui em problema para um pediatra, para outro pode simplesmente fazer parte da natureza dos bebês. Onde um oferece algum medicamento o outro resolve com alguma pequena mudança na forma de cuidar. Alguns medicam rapidamente, outros pedem para observar e decidir num segundo momento.
É comum haver troca de informação sobre diagnósticos e tratamentos indicados na Roda de Conversa. E há troca também de nomes de profissionais não só pediatras, como fonoaudiólogos, osteopatas. nutricionistas. Para além disso, quando uma participante relata sua experiência com um pediatra e se diz insatisfeita ou insegura com a proposta de cuidado, há um uníssono de opiniões sugerindo que a mãe procure outro profissional.
Mas nem sempre é possível esperar, procurar um novo profissional, ouvir outras opiniões. Mas depois de uma situação resolvida ou de alguma forma administrada, sempre pode ter tempo de buscar outras possibilidades.
Trazemos aqui o relato de outras duas participantes da Roda. “Passamos por cinco profissionais de fonoaudiologia diferentes. Cada vez que eu saía do consultório sentia que eles achavam que eu era doida. Mas com o tratamento certo conseguimos manter a amamentação até o tempo que queríamos”.
Esta participante apostou na sua observação e nas suas convicções. Remou muito tempo contra a maré, mas chegou aonde queria. Claro que ela se deu espaço para fazer isso e provavelmente contou com o apoio do companheiro que apostou junto.
O segundo relato:” A médica do meu bebê disse que a chupeta ajuda no trato intestinal, ajuda que ele trabalhe mais rápido e assim colabora para “empurrar” os gases”. Tomamos fôlego diante da frase e pedimos ajuda do grupo para avaliar seu conteúdo. Há duas questões preocupantes nesta orientação. A primeira que a chupeta, logo no começo da vida, pode atrapalhar de modo importante a amamentação no peito. Os movimentos da boca, língua, lábios envolvidos na mamada no peito são diferentes quando o bebê usa chupeta e a mamadeira. Ao oferecer a chupeta o bebê pode se atrapalhar quando chegar novamente no peito porque neste momento há exigência de outro tipo de esforço. E se ao usar a chupeta o bebê engole muito ar isso contribui justamente para aumentar os gases no trato digestivo. É possível “empurrar” os gases com massagem, com compressas mornas. O calor ajuda a relaxar os músculos abdominais e a eliminação dos gases.
Esse relato nos indica que não só pode, mas as vezes se faz necessário colocar em dúvida o que um profissional de saúde diz, mesmo que ele seja médico. A sugestão dada a nossa participante da Roda é evidentemente inadequada. Não faz sentido. Portanto as vezes duvidar é preciso. Converse com amigos que têm filhos maiores, com parentes próximos que tem experiência com bebês, vá até um posto de saúde converse com a enfermeira. Vá a um banco de leite, lá os profissionais se interessam sempre pelas dificuldades das mulheres com seus bebês.